6.8.07

Portugueses angustiados

Do JN:

Medo, fuga e angústia. Estes foram os três sintomas da síndrome da "portuguesidade" enunciados, anteontem, por Cândido Agra, presidente da Sociedade Portuguesa de Criminologia. Foi na Casa da Bonjóia, no Porto, que o especialista apresentou a sua investigação empírica em torno dos fenómenos da insegurança, da delinquência nas estradas e da droga.

"Não se trata de uma ironia ao nosso país, trata-se apenas de uma caracterização da existência portuguesa neste momento", explicitou Cândido Agra, no ínicio da conferência "(In)segurança, 'speed' e droga síndrome da portuguesidade".

Segundo o professor, Portugal é um país com medo. Ao estudar a insegurança deparou-se com um paradoxo ao mesmo tempo que Portugal é o país com o menor índice de criminalidade da União Europeia, por outro lado, é o "mais medroso", caracterizou o professor.

A conclusão quanto ao "medo português" adveio de um conjunto de quatro hipóteses. Primeiro devido à falta de confiança nas instituições da Justiça, nomeadamente, a Polícia. A segunda hipótese relaciona-se com a educação. De acordo com Cândido Agra,"quanto menos informadas as pessoas estão, mais medo têm", conclusão que o investigador apoia na taxa de abandono escolar, situada nos 45%. Também a televisão tem uma influência importante. Os portugueses são os europeus que mais assistem televisão - cerca de 4 a 5 horas por dia."É raro o dia em que não são noticiados crimes". A última hipótese é de carácter histórico. "O medo encontra-se enraizado na nossa cultura e a procura da felicidade é ainda pecado no nosso país", disse.

Outro tema de conversa foi o "speed" nas estradas portuguesas. "É um problema para o qual Portugal ainda não acordou". Segundo o professor, a aceleração e o consumo de álcool são dois comportamentos, frequentemente, adoptados pelos portugueses. "Parece que os condutores vão para a estrada para fugir, para se evadir", afirmou.

"Somos um país angustiado", salientou o professor. Apesar do consumo de álcool estar a diminuir, por outro lado, o consumo de antidepressivos está a aumentar. "Os portugueses querem resolver os seus problemas através da mediação de substâncias psicotrópicas" (cannabis e metanfetaminas) disse o especialista.

Cândido Agra terminou a conferência sublinhando que a ideia de uma sociedade segura, sem crimes e sem drogas tem de se deixar "morrer". "Devemos informar-nos e interrogar-nos sobre aquilo que nos está a acontecer e como devemos viver, pois só através de uma aliança entre o conhecimento, a ciência e a solidariedade é que será possível sair desta portuguesidade", afirmou Cândido Agra.

No final, o presidente alertou, ainda, a audiência para a necessidade de bons delinquentes que façam Portugal fugir do estado de letargia em que se encontra. "A nossa razão está, ainda, deitada no leito a espreguiçar-se", terminou Cândido Agra.

1 comentário:

mismilcosas disse...

Nomino-te a un meme... daqui a pouco vou fazer aquel que me envias-te a mim..

Boas ferias!!!

Xuak