11.2.07

Na sequência do post anterior...

A ética mais conservadora (e vigente?) da sociedade condena a homossexualidade como algo reprovável. Forçados a questionar as normas devido à sua realidade pessoal, muitos homossexuais acabam por rejeitar esta mesma ética. Ou seja, passa-se de uma situação em que se pode avaliar o que é normal e o que não é normal para uma de orfandade de uma ética.

Mas, como diz o Maurice, "o ser humano necessita, em consciência, uma legitimação da sua conduta". Ou seja, precisamos de conseguir distinguir o que está certo e o que está errado. Será então natural pensar em construir-se uma ética, até uma cultura (não estão as duas associadas?) gay. Mas, aproveitando novamente o que afirma o Maurice,"actualmente, a dita "sub-cultura" homossexual mais não conseguiu fazer que consolidar a rejeição de uma moral desapropriada à sua natureza".

A razão para isto, diria eu, é que é artificial construir uma ética para homossexuais. A sexualidade não define a personalidade, e qualquer ética que faça da mesma o seu centro de gravidade é desumanizadora, na medida em que reduz o ser humano à sua sexualidade.

Creio que é fácil esquecer isto. Por haver objectivamente discriminação, dá-se um foco especial à sexualidade. Somos como que obrigados a justificá-la, porque colocam em causa a legitimidade da mesma. Numa situação ideal seria praticamente irrelevante ser hetero ou gay.

A questão fundamental aqui é a da orfandade de ética que afecta frequentemente os homossexuais. Penso que é fundamental perceber que essa situação, para a qual somos atirados, partilhamos com muitas outras pessoas; com todos os que por circunstâncias da sua vida ou por honestidade intelectual questionam e repensam as normas sociais (que é pena não serem mais).

Por esse motivo, o que faz falta é uma nova ética, universal, que não seja afectada pelo espírito das normas em vigor.

Curiosamente, a procura dessa ética faz parte da essência do Cristianismo (que surgiu como um profundo rejeitar das patetices da sociedade judaica), e por conseguinte, de uma certa cultura judaico-cristã, de que somos filhos. Talvez não seja tão certo falar em orfandade como em pais corrompidos. Ou seja, o problema não tem nada a ver com a sexualidade, mas com a cultura em geral.

2 comentários:

Mr Fights disse...

a "nova ética universal" lembra um pouco o "Imagine" do John Lennon...

a nova ética como qualquer nova cultura constroi-se sempre a partir da anterior embora possa negar partes significativas dessa mesma ética.

Momentos disse...

Fala-se demais e pouca acção...