10.9.07

Da normalidade

No blog do Maurice costumam encontrar-se excelentes reflexões e trocas de opiniões. A propósito de um post dele sobre o orgulho gay, lembrei-me de muitas outras discussões, nomeadamente em que era feita a apologia da normalidade. Deste ponto de vista, comportamentos mais exóticos de uns poucos na comunidade LGBT prejudicam o comportamento dos demais, que são normais. Os primeiros aparecem como os maus da fita, que estão demasiadamente focados na sua sexualidade.

Eu acho que há de tudo. Há pessoas que se centram demasiado numa característica sua. Há pessoas que gostam de dar nas vistas. Há pessoas que simplesmente são mal entendidas. E há pessoas que simplesmente são assim.

Esta discussão aparece frequentemente aquando das paradas gay. Muitos defendem que estas dão má imagem à comunidade LGBT, que a mostram como sendo algo não normal. Já pensei assim. Agora acho que isso é não captar a principal mensagem dessas mesmas paradas: a apologia da diversidade, e da tolerância à mesma.

Se a estratégia para nos integrarmos passar por sermos "normais", então teremos que descolar da imagem de algumas pessoas que não são normais, não estão na norma. Mas isso faz de nós cobardes. Sendo discriminados, não aprendemos nada, e discriminamos o outro para proveito próprio. Para nós ficarmos bem, deixamos outros para trás. É como o miúdo tímido e fraco que para se juntar ao grupo dos mais fortes insulta e agride um miúdo ainda mais tímido e mais fraco. É a cobardia de grupo.

Quem é normal tem a vida facilitada. Óptimo. Mas antes de criticar os outros, convém pensar porque o faz. Que a razão não seja para reforçar essa normalidade, para compensar o que nele falha à norma... (obviamente que pode haver outras razões, outros raciocínios; também eu respeito a diversidade de opiniões)

5 comentários:

Anónimo disse...

Claro!
ZR.

Momentos disse...

Não sei o que é ser normal. Não basta apenas ser o que a sociedade entende por normal. Procuro e talvez encontre um dia, mas sem ansiedade, porque não é "problema" que me tire o sono.

Maurice disse...

Caro /me,

Como já disse o ZR, Claro!
Parece-me que não fui capaz de transmitir aquilo que queria dizer.
O texto que escrevo sobre o orgulho pretendia ser ele próprio uma expressão do saudável orgulho que referes nos comentários que me deixaste. Por isso recorro à ironia e à comparação entre o sentimento sobre a própria homossexualidade e a inteligência e a beleza. Ora essas são características claramente positivas (embora de outra ordem). O que pretendia era sublinhar o vínculo que deve ser promovido entre a homossexualidade e uma auto-estima em alta...
Quanto a manifestações exuberantes desse orgulho gay, embora as compreenda e aceite, não posso deixar de olhar para elas como exageros característicos de vontade de afirmação em contexto hostil.
Quanto à normalidade...
Começo por dizer que é outro tema.
Normal refere-se à norma, leia-se maioria. Não é, portanto, garantia de ser bom ou mau...
Acrescento, aqui entre nós, que, para mim, a normalidade é uma maçada: desengraçada, desinteressante e aborrecida.
Quer isto dizer que não acho nada que se deva ter a "normalidade" (que é isso?) como objectivo...
O objectivo deve ser outro: a autenticidade. Estamos, portanto, conversados.
Outra coisa bem diferente é o bom senso que me permite ser adaptativo no meu comportamento. Mas isso não tem nada a ver com ser homossexual ou não. Tanto incomoda um exibicionista gay, como um exibicionista heterossexual.
Aqui há que considerar que há manifestações e comportamentos que se forem de natureza homossexual são criticados como exibicinismo, enquanto que se forem de natureza heterossexual, não o são (um casal de mãos dadas na rua...). Ora, em meu entender, é este o campo da intervenção pedagógica...:)

Com isto tudo, não sei se me fiz entender.

Abraço

/me disse...

Maurice, o meu post, e os comentários no teu, não são propriamente uma resposta ao que escreveste. São também isso, mas acima de tudo são considerandos meus. Comecei por te responder, mas depois fui mais longe, e respondi a outras conversas, a outras discussões, juntando aqui as ideias que agora são minhas.

Os teus posts são escritos de molde a dar azo a boas discussões. :)

João Roque disse...

Sobre o orgulho gay, já deixei a minha opinião no blog do Maurice.
Quanto à normalidade, para mim, ser normal é não prestar a mínima preocupação, neste campo , se as coisas são ou não normais.
Abraço.