2.2.07

Florbela Espanca

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

11 comentários:

maria disse...

como "nós" andamos... :)

Little Tiago Boy disse...

Ai Florbela...
BOm gosto, bom gosto ;)

Anónimo disse...

Oh oh...parece que ao lêr a música nos toma de assalto e nos pômos a cantarolar em voz alta!Um poema excelente numa música ainda melhor! Abraço grande

Anónimo disse...

Florbela Espanca é uma poetiza brilhante que só teve um problema (ou talvez não...): nasceu antes do seu tempo.

Mr. Placard disse...

Subscrevo: Florbela Espanca nasceu antes do seu tempo!

Sem dúvida nenhuma.

=)

RIC disse...

... Inteiramente de acordo com o que ficou dito por todos. Mas não acham que seria já tempo de mostrar outros rasgos da Florbela? Começa a cansar o «ser poeta é ser mais alto»... Há tantos sonetos bem melhores...

/me disse...

Sim, Ric, tens razão. O problema é que eu queria colocar algo da Florbela Espanca mas que não tivesse nenhum elemento de drama ou tragédia. E na verdade, tirando isso, não encontrei nada que gostasse realmente, que fosse do foro do genial (na minha opinião de leigo, e após uma pesquisa de 5 minutos no google).

Sei que colocar um poema-cliché dá um bocado de mau aspecto, mas decidi não me preocupar com isso. :)

RIC disse...

... Sem qualquer censura da minha parte, entenda-se... Cliché por cliché, então que venha «Eu quero amar, amar perdidamente»: é Florbela a 100%!
Nela há sobretudo um lirismo dramático ou trágico, quase todo ele autobiográfico. Daí, a sua autenticidade. Mas há nela um génio lírico!
Genialidade, deverias procurá-la em Pessoa, por exemplo...

/me disse...

Tens razão, Ric. Mas tinha mesmo de ser Florbela Espanca...
Razões mais altas se alevantaram. ;)

Anónimo disse...

Nas condições que indicas, sem drama ou tragédia, em Florbela não é fácil encontrar. Mas gosto muito deste soneto dela:


A noite sobre nós se debruçou...

Minha alma ajoelha, põe as mãos e ora!

O luar, pelas colinas, nesta hora,

É água dum gomil que se entornou...


Não sei quem tanta pérola espalhou!

Murmura alguém pelas quebradas fora...

Flores do campo, humildes, mesmo agora,

A noite os olhos brandos lhes fechou...


Fumo beijando o colmo dos casais...

Serenidade idílica das fontes,

E a voz dos rouxinóis nos salgueirais...


Tranquilidade...calma...anoitecer...

Num êxtase, eu escuto pelos montes

O coração das pedras a bater...


ZR.

s disse...

eu não gostar de Florbela... [blerg]