No momento em que /me descomprimiu os lábios e fechou os olhos, soube que iria morrer. Por debaixo da mão que lhe acariciava o peito, e enquanto as suas pernas fraquejavam, sentia ir-se difundindo um ligeiro ardor, sintoma supérfluo da verdade inadiável que claramente pressentia. Permitiu-se um sorriso, um tirar de chapéu à suprema ironia e expressão irreprimível de se sentir feliz.
O expirar suave e levemente ofegante que lhe acariciava a cara ia-o sentindo progressivamente menos. A alma, estática, era descolada do corpo que inclinando-se em frente pousava os lábios nos do seu amado. /me não teve a certeza de chegar a sentir o beijo suave ao perder a consciência. O roçar de lábios húmidos alheios nos dele, musicados por um quase inaudível gemido de prazer, foram correspondidos por não mais que fria falta de resistência pelo seu corpo inerte no qual o coração havia parado de bater.
No dia em que se prometera ser para sempre não mais que corpo autómato sem sentimentos, definira-se o seu futuro. Nunca mais a sua boca formaria um sorriso de felicidade, jamais se permitiria ser fraco, amar e ser amado, confiar e mostrar fragilidade. Seria frio, meramente funcional e produtivo, e nisso gastaria a sua humanidade. Seria rocha, seria ilha*, que a rocha não sofre, e a ilha não chora. As promessas cumprem-se, qualquer que seja o custo. Por tudo isso, /me tinha agora de morrer.
A pergunta
- Amor, estás bem?
ainda ecoava nos ouvidos de /me ao reentrar-lhe a alma no peito. Inspirando com prazer o ar, já com os olhos abertos e o sorriso reavivado, responde
- Estou mais que bem. Estou feliz. Amo-te.
* "I am a rock" é uma música dos Simon and Garfunkel
O expirar suave e levemente ofegante que lhe acariciava a cara ia-o sentindo progressivamente menos. A alma, estática, era descolada do corpo que inclinando-se em frente pousava os lábios nos do seu amado. /me não teve a certeza de chegar a sentir o beijo suave ao perder a consciência. O roçar de lábios húmidos alheios nos dele, musicados por um quase inaudível gemido de prazer, foram correspondidos por não mais que fria falta de resistência pelo seu corpo inerte no qual o coração havia parado de bater.
No dia em que se prometera ser para sempre não mais que corpo autómato sem sentimentos, definira-se o seu futuro. Nunca mais a sua boca formaria um sorriso de felicidade, jamais se permitiria ser fraco, amar e ser amado, confiar e mostrar fragilidade. Seria frio, meramente funcional e produtivo, e nisso gastaria a sua humanidade. Seria rocha, seria ilha*, que a rocha não sofre, e a ilha não chora. As promessas cumprem-se, qualquer que seja o custo. Por tudo isso, /me tinha agora de morrer.
A pergunta
- Amor, estás bem?
ainda ecoava nos ouvidos de /me ao reentrar-lhe a alma no peito. Inspirando com prazer o ar, já com os olhos abertos e o sorriso reavivado, responde
- Estou mais que bem. Estou feliz. Amo-te.
* "I am a rock" é uma música dos Simon and Garfunkel
5 comentários:
[suspiro....]
Jurei agora mesmo que não ia chorar, mas por causa deste texto quebrei a promessa.
Estou tão feliz por ti que tu não fazes uma pequena ideia... :)
«Omnia amor vincet»...
Belo texto! Parabéns!
Uau!
Que linda morte, /me!
Que lindo renascimento!
Poderes confiar e mostrares-te frágil é tão bom ...
ZR.
Quando se ama, entende-se muito melhor a felicidade dos outros, por amarem também.
Belo texto.
Tudo de bom para vocês.
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