Na antiguidade, quando a República Romana se deparava com situações onde o jogo político poderia sair fora de controle, era designado pelos cônsules um ditador para assumir o poder até que a situação voltasse à normalidade. Os poderes do ditador eram totais, poderia fazer a guerra ou a paz, até o restabelecimento do estado de direito. A ditadura romana era um estado de excepção em que, uma vez resolvida a gravidade da situação que a desencadeou, cessava, voltando o estado à normalidade. [tirado da wikipedia]
Em Portugal, o culto a figuras como Manuela Ferreira Leite, Cavaco ou agora Sócrates, mostra como nós gostamos de ditadores à Romana. Queremos quem quer que seja que ponha ordem nesta choldra, sentindo-nos seguros pelo poder que o voto nos confere de limitar mandatos. Queremos quem governe contra este e aqueles que nos atormentam.
Percebo agora porque sempre me irritaram os discursos do 25 de Abril. Uma democracia sem espírito democrático já é melhor que o que tínhamos, mas não é tudo, e acima de tudo, pouco poderá durar. Estamos, enquanto nação, dispostos a vender a liberdade por pouco. Acredito que estamos predispostos a receber um novo Salazar, igualzinho ao último excepto nos acabamentos, mas com aparência de muito melhor porque não está (ainda) diabolizado como o último.
Atrevo-me a dizer que somos quase democracia por acidente, por moda, porque sim, e não porque estejamos preparados para isso. Culpa de quem? É complicado apontar culpas, mas as elites, que não se têm preocupado por muito mais que por elas próprias, terão a sua quota parte. É que se numa democracia se assume que cada um consegue pensar por si, também é verdade que ainda não atingimos esse estádio. Nos entretantos, exigir-se-ia uma auto-regulação (ou se calhar um maior realismo, revendo alguns dos nossos pressupostos sobre o que é a democracia e o que é o nosso sistema actual).
Em Portugal, o culto a figuras como Manuela Ferreira Leite, Cavaco ou agora Sócrates, mostra como nós gostamos de ditadores à Romana. Queremos quem quer que seja que ponha ordem nesta choldra, sentindo-nos seguros pelo poder que o voto nos confere de limitar mandatos. Queremos quem governe contra este e aqueles que nos atormentam.
Percebo agora porque sempre me irritaram os discursos do 25 de Abril. Uma democracia sem espírito democrático já é melhor que o que tínhamos, mas não é tudo, e acima de tudo, pouco poderá durar. Estamos, enquanto nação, dispostos a vender a liberdade por pouco. Acredito que estamos predispostos a receber um novo Salazar, igualzinho ao último excepto nos acabamentos, mas com aparência de muito melhor porque não está (ainda) diabolizado como o último.
Atrevo-me a dizer que somos quase democracia por acidente, por moda, porque sim, e não porque estejamos preparados para isso. Culpa de quem? É complicado apontar culpas, mas as elites, que não se têm preocupado por muito mais que por elas próprias, terão a sua quota parte. É que se numa democracia se assume que cada um consegue pensar por si, também é verdade que ainda não atingimos esse estádio. Nos entretantos, exigir-se-ia uma auto-regulação (ou se calhar um maior realismo, revendo alguns dos nossos pressupostos sobre o que é a democracia e o que é o nosso sistema actual).
4 comentários:
...ei...voltaste.... õ_O (vou ler-te com atenção...tssss)
Ainda bem, meu caro Me, que isto é apenas uma «caixa de comentários», senão...
A questão fundamental remonta ao século XVI - se acaso te interessa saber - e é um problema psicanalítico colectivo: a busca do pai. Nem sequer entrarei pelo caminho de tecer considerações sobre o pai que não poderia jamais sê-lo...
Depois... Bem, depois é o que está à vista. A culpa não pode estar apenas nos governantes. Talvez aquiete as consciências de uns quantos, mas não explica a «choldra» queirosiana... Somos nós, portugueses, que não sabemos organizar-nos como uma sociedade que quer mais e melhor. Os governantes, por muito maus que sejam, não podem fazer milagres.
Compreendo a tua frustração, também já a senti, mas se as gerações mais jovens continuarem a pensar assim... Mais um século passará, e tudo ficará na mesma.
O fantasma do ditador que vem pôr ordem no caos é apenas um desejo (mórbido) de aligeirar responsabilidades que cabem a todos nós. Chega de alimentar o complexo do filho da p... Se cada um de nós não pactuar com a porcaria quotidiana, estou certo que daremos passos no bom caminho.
Lamúrias não levam a lado nenhum.
E este nosso mundo de hoje não é - de todo - dominado por fantasmas. Bem pelo contrário, são bandidos de carne e osso que fazem dele o que querem.
Se queres um Portugal melhor, pôe os portugueses a pensar que definitivamente a escola é o lugar para construir o futuro, não a macacada a que assistimos todos os dias...
E o resto virá por arrasto.
É muito mais fácil alguém pensar e tomar decisões por nós. Dá menos trabalho, retira-nos responsabilidade no caso de as coisas não correrem pelo melhor e dá-nos possibilidade de criticar quem está a fazer algo, bem ou mal. É esta a mentalidade da maioria dos portugueses. Querem essencialmente direitos e não deveres. Querem que sejam todos os outros a pagar a crise, em vez de todos em conjunto. Queixam-se que a vida está mal. Mas continuam a fazer o intervalo de uma horinha para o cafézinho a meio da manhã. Queixam-se que o dinheiro não chega para a comida, mas não deixam de ter um telemóvel 3G todo xpto com câmara de muitos megapixeis. Enquanto assim for, vai ser difícil...
Pois, caro Me
isto fez-me pensar muito, e também os comentários do Ric e do equillibrium...
Mas, ditaduras, definitivamente,NÃO!
Mas que o Zé gosta de quem mande, é uma verdade, por muitos protestos que haja.
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