29.8.06

Leonardo Boff

Ler entrevista completa do teólogo católico Leonardo Boff aqui:

"Sobre a sexualidade é fundamental reconhecer a criação do amor de Deus e dizer que onde há amor entre casais, ou entre homossexuais, seja mulher ou homem, onde há amor há ato de Deus, porque Deus é amor. A igreja penaliza os homossexuais dizendo que é uma inclinação perversa, imoral, e isso é uma atitude ilegítima. Não cabe a ela fazer um pronunciamento científico, se é normal ou se não é. O que cabe a ela é dizer que, desde que se descobre esta situação, que procurem não ser promíscuos, procurem viver a fidelidade e o amor, porque isso é o que importa. Essa é a missão da Igreja, dizer a verdade. E ela está negando essa verdade aos homossexuais."

17 comentários:

Unknown disse...

Onde é que posso subscrever?...

É que não poderia concordar mais. Ainda não li a entrevista toda, mas fá-lo-ei em tempo oportuno.

Abraço!

Aequillibrium disse...

Grande Senhor! Sim! É mesmo para subscrever!

FFreitas disse...

Por ser "contra maré" é que foi quase excomungado (ou foi mesmo?)!

Concordo com o que ele diz, seja relativamente a homossexuais ou heterossexuais, casamentos pela Igreja ou uniões de facto... Desde que haja verdadeiro amor, Deus está presente!

dcg disse...

Muito bem escrito. Muito verdadeiro. Muito oportuno.

NaSacris disse...

Me/, obrigada pelo link.
Participei num curso, estive em algumas palestras e tenho três livros assinados pelo amigo Boff. O seu pensamento é o da àguia que se recusou a ser galinha. E continua a surpreender.

Beetho disse...

Amar é o imperativo fundamental do cristão. O amor a Deus está intimamente ligado ao amor ao próximo. O amor encontra em Jesus a sua fonte e o modelo em Quem inspirar-se...

Amar é o único importante, a única realidade que nos introduz na relação com Deus. A única forma de saber que estamos nesta relação é comprometermo-nos sempre pela vida, pela liberdade, pela promoção humana de todas as pessoas para conseguir a sua felicidade. Graças ao amor, a norma suprema é sempre a vontade de amar, de desejar o bem total da pessoa: é bom tudo o que contribui para a felicidade do homem e da mulher, sejam homossexuais ou heterossexuais.

Caramba! A Igreja, à semelhança de Cristo, deveria servir com mansidão e humildade de coração numa relação que envolve nomes e não simplesmente princípios, pessoas e não leis abstractas, corresponsabilizados e não meras curvaturas obedienciais.

É que não há nada tão repelente como encontrar-se com um homem seguro no terreno religioso e permitindo-se a desfaçatez de julgar e desprezar os outros.

Leonardo Boff é um cristão, formado pelos franciscanos e na vida franciscana, com quem a Igreja não soube superar as tensões e dialogar pacientemente com abertura de espírito. E por sua vez, o próprio Leonardo extremou as suas posições e "quebrou" na sua ligação à Igreja. Muitos outros homens, de igual ou superior tempera e qualidade intelectual, souberam aguentar a "travessia do deserto" dentro da Igreja e acabaram, com a mudança dos ventos da História, reavaliados e aceites no interior da Igreja, de onde nunca saíram. Enfim... gostaria que Leo tivesse aguentado. Mas ainda hoje permaneço a seu lado, junto à cruz. Acredito que, um dia, será reabilitado e reconhecido pela instituição que o "deportou" e da qual ele se "exilou". Gosto dele!

Anónimo disse...

Deus não existe. E a homossexualidade deve ser entendida num contexto secular, humanista, nas suas vertentes biológica e sociológica. É um assunto que não deve ser martelado (com maior ou menor jeito) nos paradigmas falaciosos das religiões. Mas quem acredita em Deus, lá terá que fazer um pouco de ginástica mental para encaixar um fenómeno estritamente natural com implicações puramente seculares no absurdo do dogmatismo católico. Mas se encaixou Deus, encaixa qualquer coisa. E, posto isto, nada mais tenho a acrescentar.

secret him disse...

Concordo com o mindful... sem ler mais pq n tenho tempo :P

Rui Santiago cssr disse...

Obrigado por este ser tambem um espaço de Verdade!

Sim, "no fim, só o Amor permanecerá..."

teresa.com disse...

e se tantos outros percebessem isto...
Bem, um OLA bem grande que voltei de ferias e ja tinha saudades!

Anónimo disse...

Interessante, parece fazer sentido...

Beetho disse...

Discordo do mindful... no que se refere a Deus.
Acredito em Deus. Sou um homem de fé.

A propósito da homossexualidade, concordo que é matéria de estudo no âmbito de um «pronunciamento científicio» (p.ex., a antropologia, a biologia, a psicologia, a sociologia...).

As implicações ético-morais aplicam-se ao comportamento de toda a pessoa humana, independentemente da sua orientação sexual (p.ex., «procurem não ser promíscuos, procurem viver a fidelidade e o amor»)

A perspectiva religiosa, nomeadamente a fé católica, deve implicar os respectivos crentes, dos quais se espera o testemunho de coerencia e de autenticidade, com base no espírito crítico e no respeito pela autonomia da consciência.

Quanto ao «absurdo», em verdade, com honestidade intelectual, temos de reconhecer que faz parte da vida humana.
Mesmo na vida daqueles que desenvolvem as suas reflexões apenas num contexto secular, humanista.

No que se refere a ginástica, considero que é sempre bom o exercício da mente e do corpo... «mens sana in corpore sano».

Anónimo disse...

Beethoven, a diferença entre as nossas opiniões reside num ponto essencial: a crença ou descrença no divino. Para mim, ateu, que parto da premissa de que Deus não existe, todo o esforço de entender a homossexualidade no contexto religioso é um absurdo. É como trabalhar a lógica e a razão numa base nonsense. Assim que se aceitam certos dogmas católicos e outras tantas verdades reveladas, o raciocínio está condicionado aos princípios falaciosos da religião que alguns séculos de ateísmo militante, laicismo e secularismo procuraram (e conseguiram) expôr. Ora, muitos religiosos já não se revêem na linha dura do Vaticano, discordando no ponto A ou B, folgando a directiva papal X, o que lhes permite criar milhares de variantes pessoais do catolicismo onde o pacote vendido pela religião é adaptado e encaixado à sua teia mental. Mas, enganando-se, deixam de ser católicos. Serão, quanto muito, cristãos liberais. E é esta moderação evangélica, este contorcer da fé que procura organizar a identidade pessoal moderna face aos mandamentos de Deus e da Igreja, que mina a própria essência da crença e a pertença objectiva a uma denominação religiosa. Ou porque se é homossexual e sente-se na pele a discrepância entre a orientação da Igreja e a pulsão sexual, mais forte, levando a pecar orgulhosa e conscientemente; ou porque abortou e de repente já não considera pecado porque arranjou justificação num canto da consciência, tornando-se assídua da prática quando outro filho indesejado vem a caminho; ou porque, simplesmente, não vai com a cara do indivíduo que escolheram para Papa, negando a linhagem papal, dita escolhida por espírito santo. Onde estão a integridade, a coerência e a devoção à fé? A que religião construída à medida pertencem, afinal, estas pessoas? Nenhum argumento místico pode suportar o peso da razão. A religião, a ter tido utilidade na história da evolução do Homem, já passou de prazo. Discuta-se, então, a homossexualidade nos contextos filosófico, sociológico, biológico, de forma mais pragmática ou floreada, conforme os gostos; ou então diga-se, explicitamente, que se trata de um exercício da imaginação com fins meramente recreativos.

Beetho disse...

mindful,
Antes de mais, fique claro: eu como cristão só assumo a minha humanidade coerentemente a partir da luz que a fé projecta. Opção de humanidade e opção de cristianismo situam-se como dois círculos concêntricos à volta da minha única identidade.

Da sua reacção ao meu comentário, retenho particularmente esta sua ideia: «é esta moderação evangélica, este contorcer da fé que procura organizar a identidade pessoal moderna face aos mandamentos de Deus e da Igreja, que mina a própria essência da crença e a pertença objectiva a uma denominação religiosa.».

Vejo nesta sua afirmação o estímulo perigoso a posicionamentos de extremismo fundamentalista por parte dos religiosos. Por isso, pessoalmente, não alinho nesse “empurrãozinho” para atitudes irracionais em defesa de um fideísmo mascarado de fé. Aquilo que considera “contorcionismo da fé”, eu defendo dever tratar-se do exercício da capacidade crítica do crente. De facto, o cristão autêntico, isto é, sem arrogâncias por um lado e sem complexos por outro, há-de ser antes de tudo um ser humildemente lúcido e inteligentemente crítico.

A fé implica uma decisão de acolher toda a amplitude do real, uma decisão de não tolerar nenhum encobrimento ou constrangimento e de não submeter ao silêncio nenhum sinal interrogativo que possamos descobrir na vida. O homem faz-se crente quando se dá conta, talvez inesperadamente ou talvez depois de longos devaneios intelectuais ou cordiais, que se encontra a ser – sendo inserido na vida e respirando implantado numa comunhão com alguém anterior a ele, a cujo olhar não pode subtrair-se e a cujo amor não pode renunciar.

A identidade cristã não é uma pedra filosofal, que encontrada dispense de continuar a lavrar e a perscrutar a nossa humanidade. Nem é um aditamento a uma humanidade já totalmente ancorada em si mesma, isto é, compreendida plenamente anterior à fé, de tal forma que esta pudesse ser considerada como decorativa gratuidade de algo que sendo válido não é em última análise necessário para compreender-se a si mesmo e realizar-se o homem como homem. O cristianismo leu sempre a vida humana e interpretou o destino último do homem à luz de Jesus de Nazaré, e no dia em que a veja sob outra luz, ou considere esta luz como secundária, torna-se historicamente ineficaz e desnecessário.

Nos tempos que correm, quando frequentemente perdemos a capacidade de pensamento crítico e o vigor para o conceito claro, desvalorizamos o rigor da palavra e deixamo-nos cair na tentação de uma linguagem religiosa marcada por simplismos teológicos e espirituais. É aqui que se me impõe o exercício, não «da imaginação com fins meramente recreativos», mas sim do acto livre do pensamento crítico que não permite redução, utilização, domesticação da minha palavra ou acção em função de outros fins contrários à fé em Cristo. Uma fé vivida na Igreja e com a Igreja, sem dúvida. Mas também uma fé que impulsiona o cristão a expressar com toda a clareza e caridade que a actual Igreja às vezes se engana com questões muitas vezes circunstanciais, sem perspicácia para o que está em jogo, clericalmente fechada em devaneios internos, sem valor e liberdade para ir ao essencial. Talvez seja o caso quando aborda a problemática referente à homossexualidade. Por um lado, manifesta um radicalismo aparente, pois de facto é cobardia para meter-se no que de verdade urge esclarecer; por outro lado, um apego obsessivo àquilo que anteriormente foi vivido, que não é fidelidade mas sim incapacidade para pensar e aceitar o tempo.

Por fim, gostaria de dizer que, certamente, na Igreja não falta gente fanática a exigir uma entrega incondicional, que não admite dúvidas ou suspeitas, que não tolera a menor crítica e que faz de todos os homens e mulheres católicos um corpo perfeitamente disciplinado. Ora, entre os que defendem esta exigência fanática de um corpo perfeitamente disciplinado e a crítica de mindful [«o que lhes permite criar milhares de variantes pessoais do catolicismo onde o pacote vendido pela religião é adaptado e encaixado à sua teia mental. Mas, enganando-se, deixam de ser católicos.»] vejo uma concordância excepcional: ambos gostariam de ver desfeito o equilíbrio dialéctico entre obediência e discernimento, esquecendo que a suprema obediência só pode provir de um acto livre de supremo discernimento.

Anónimo disse...

Beethoven,

Na realidade, a moderação religiosa não só é inconsistente de um ponto de vista lógico como dá cobro ao verdadeiro fundamentalismo. Passo a explicar. As denominadas religiões do livro, monoteístas, de raíz comum, como o judaísmo, o islamismo e o cristianismo, baseiam a sua doutrina em textos que expõem a crueldade e intolerância de Deus e dos povos escolhidos num registo constante; registo esse que, por um lado, pode ser contextualizado culturalmente e, pelo outro, admitamos até (!), consista numa genuína verdade revelada. Ora, em qualquer dos casos, os livros apregoam objectivamente um ódio de morte contra a homossexualidade (entre outros comportamentos) e preconizam uma série de regras a serem seguidas à risca, sob pena de castigo severo. Ora, os fundamentalistas poderão fazer uma interpretação demasiado literal dessas instruções, mas não podemos negar que elas estão lá, e nem todas podem ser descartadas ou convertidas em versões modernas e moderadas (como convém a alguns) sob pena de deturpar a verdadeira mensagem do livro. E, com isso, a base da religião. Os fundamentalistas são, por isso (infelizmente), coerentes com a sua Fé. Por outro lado, a moderação faz cair sobre a religião uma cortina de fumo que relativiza as críticas, a cobro de uma suposta liberdade de interpretação pessoal onde não se pode tocar --- o fundamentalismo agradece. Não é a minha posição que estimula comportamentos extremistas perigosos; é a própria Bíblia e o Corão que os determinam. E se todos os crentes fossem verdadeiros seguidores da sua Fé, não seria de esperar estrita obediência a esses mandamentos? Em nome de que deus escolhem uns e abandonam outros? Nem todos podem ser explicados pelo atavismo dos povos de então. Deus deve ter mesmo determinado que as coisas fossem assim. Se não, então que religiões modernas são estas e em que preceitos fabricados é que se baseiam? Entende agora o meu ponto de vista? Para mim, qualquer posição religiosa, seja ela fundamentalista ou moderada é um absurdo, uma incoerência, uma rasteira à racionalidade e ao espírito crítico.

Beetho disse...

mindflu,
agradeço a sua atenção
e o seu esforço em fazer-me entender o seu ponto de vista.

Creio já ter entendido a sua atitude dogmática
de que «qualquer posição religiosa,
seja ela fundamentalista ou moderada
é um absurdo, uma incoerência,
uma rasteira à racionalidade
e ao espírito crítico.»


Por considerar que uma tal atitude
inviabiliza o diálogo no âmbito deste confronto
que procurei sustentar com honestidade intelectual
e abertura de espírito,
dou por concluída a minha participação neste debate.

Respeitosamente,
desejo-lhe as maiores felicidades.

Anónimo disse...

Beethoven,

Não confunda dogmatismo com conclusão lógica fundamentada.
Dogmatismo é aceitar que uma virgem pode dar à luz o salvador da humanidade, para este ser crucificado e ascender aos céus, tendo como única fonte destas verdades uma tradição oral e escrita inexactas com dois mil anos (para além de atentar contra toda a lógica e racionalidade). Não é sobre isto que assenta a doutrina católica? Não é isto que é exigido acreditar como verdades fundamentais, entre outras coisas? Chamam-se dogmas e aceitam-se sem questionar, para além de qualquer prova.
Por outro lado, conclusão lógica fundamentada é aquilo que apresento no meu último comentário e que discorre dos meus argumentos anteriores. É uma conclusão em que acredito, não porque alguém ma revelou, mas porque a minha honestidade intelectual (sim, também a tenho), face aos argumentos, a valida.

E isto não impede qualquer diálogo. Impede tanto quanto o dito ecumenismo promovido pela Igreja. Quem diria que religiões que promovem verdades absolutas diferentes (paradoxal!) seriam capazes de chegar ao diálogo inter-religioso? Se não fôr para dar a ideia de tolerância e apaziguar o fundamentalismo, de nada serve. Porque não vão mudar as suas interpretações dos textos religiosos nem nada que reduza a sua força. Portanto, como vê, este assunto poderia ser discutido até à exaustão, como todos os outros assuntos onde as pessoas têm ideias contraditórias. Eu não espero que se torne ateu, nem você espera que eu me converta ao cristianismo e, no entanto, dissémos muitas coisas válidas.

Mas se apenas pretende aproveitar a minha última frase para contra-argumentar, também eu concordo que nada mais há a dizer.