Eu hesitei na palavra a usar... Religião, Fé, Deus. Enfim, usei as que usei, e sei que os meus leitores terão a inteligência para me entender melhor do que me exprimi. :)
O mais importante é que conseguiste dizer o essencial numa frase tão curta. E olha que, isso sim!, deveria ser um dogma de... FÉ. Darias um bom teólogo! Pensa nisso! :)
A sensação de liberdade que dá uma Fé ... saudável, para usar a tua palavra, é muito forte.
Mas ... não sei se será assim em todas as tradições religiosas.
No Critianismo é - porque se centra numa Pessoa que Deus nos dá e porque a vida e o ensinamento dessa Pessoa podem ser resumidos no "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei". Digamos que Jesus é de tal maneira central no Cristianismo que nada - Livro, Tradição, Igreja - pode reivindicar como doutrina correcta algo que repugne à consciência moral do cristão visto à luz de Jesus e desse novo mandamento. O Cristianismo é a religião de uma Pessoa e é através d'Ela que tudo o resto tem que ser visto.
No Islão, que - esse sim - é uma religião do Livro, as coisas são mais complicadas. O Corão é a palavra de Deus, sem qualquer mediador - e as suas prescrições têm valor absoluto, mesmo que violem a consciência moral do crente ( mas resta o problema da interpretação ).
É uma característica do Cristianismo que os fundamentalistas bíblicos e os tradicionalistas e ... os que absolutizam o magistério ... "falham".
Claro que ao dar corpo ao mandamento novo em situações particulares e concretas, ao interpretarmos o que, em tais ou tais condições, ele pode significar, nos sentimos livres ( nada - regra social, lei do Estado, doutrina da Igreja - poderá passar à frente do mandamento novo ).
Tão grande liberdade assusta. O medo de errarmos assusta e é aproveitado pelas Igrejas para absolutizar o seu magistério.
Claro que é dever de um cristão informar-se sobre a doutrina, discutir, contrastar as suas opiniões com as dos seus irmãos na Fé.
E se há indecisão no seu espírito, até é prudente seguir a doutrina da denominação com que mais se identifica.
Mas, não havendo indecisão, estando certo do que pensa ( e sabendo que pode errar! ), é seu dever defender e praticar o que pensa.
Ninguém será pesado por ter ou não seguido este ou aquele ponto da doutrina - mas por ter ou não seguido a sua consciência.
É uma liberdade que no princípio assusta, por causa da responsabilidade que assumimos ante Deus. Depois, pensamos que o nosso dever é tentar acertar, não necessariamente acertar - e que, com a ajuda d'Ele, até podemos acertar ... e sorrimos.
Não somos leitores e aplicadores de doutrina - somos cristãos.
/me não queiras "dar num bom leigo", tu já o és... Não duvides disso! :)
Trapezista, só podes encontrar a fé quando a quiseres procurar. ;) Sinto mesmo isso... Em tempos que já lá vão fugi da catequese. Voltei lá muitos anos depois, pelo meu pé. Redescobri Deus! Depois houve um dia que percebi que Ele me convidava a mais... Comecei a discernir. A fé tornou-se muito mais presente, ajudou-me a ser mais livre. E em liberdade decidi "re-re-redescobrir" ainda mais Deus. Ou seja, percebi que a minha vocação passava por este caminho em ser consagrado (on, se leres isto, não fiques com o "consagrado" atravessado :p , pois não me torna nem melhor, nem pior. Uns casam, outros consagram-se, outros ficam solteiros).
A fé aumenta quando abrimos a porta. E este aumento passa por consolações e também por desolações. Custa sentir o vazio de Deus, mas o Seu silêncio fala bastante. Como posso compreender a solidão dos outros, se não passo por ela? Até hoje não encontrei ninguém que diga: "Não tive uma chatice nem a minha vida!" No entanto, já encontrei muitas pessoas em que, graças à Fé que vão sentindo, as chatices foram motivos de grande crescimento interior.
Uma coisa que me ajuda a pensar na liberdade é uma frase de S. Paulo, na sua 1ª carta aos Coríntios: "Tudo te é permitido, mas nem tudo te convém".
Sinto-me um homem com fé, mas quero ter forças para re-re-re(os re's que forem necessários)descobrir ainda muito mais Deus. Sim, porque Ele é a Eterna Novidade, não se esgota numa imagem... ;)
/me, mais uma vez obrigado!
Abraço a todos, com a minha oração por cada um! :)
/me, desculpa usar o teu espaço. Só para dizer que, mesmo que não conheça, ou até mesmo não venha a conhecer, as pessoas que passam por aqui, o que é certo é que agradeço por serem quem são. Daí dizer que rezo por cada uma. (Um momento meio meloso, mas... enfim... Quem me conhece sabe que de vez em quando tenho estas pancas... :p )
Não vejo qual a diferença entre dar um Filho ou dar um Livro. Acaso estaremos a fazer juizos de valor sobre o que Deus dá a cada um?
Parece-me que há aí uma certa intolerância religiosa. É que não me parece correcto comparar o melhor do cristianismo com o pior do islamismo. "O Corão é a palavra de Deus, sem qualquer mediador - e as suas prescrições têm valor absoluto, mesmo que violem a consciência moral do crente" deve ser a pior maneira de se viver o islamismo.
Qualquer religião vivida correctamente leva a Deus, logo liberta.
Respeito isso da fé, mas parece-me algo que é imposto, educado para tal, qualquer coisa que delimita... que nos obriga a acreditar no que não se percebe, fazendo-se passar que é assim, sem que nada se perceba e se continue na mesma. A fé o que esclarece? A fé é um obstáculo ao conhecimento, é o ópio do povo para os problemas, para aquilo que parece dizer o que não diz, uma falsa ilusão sem nada esclarecer. Mas pronto! Quem sou eu para tar a dizer isto? Cada qual que fique como lhe agrada, com ou sem a sua dita fé... que seja feliz mas que abra os olhos e não seja uma "maria vai com as outras". Vou pensar outra vez, mas penso que nada vai resolver, o conceito foi aplicado...
Não sou versado nestes assuntos, mas penso muitas vezes neles e vou tentar expor o que penso.
1) Com Jesus, Deus abriu-nos uma porta para nos aproximarmos d'Ele. Trata-se de uma aproximação essencialmente diferente da do Judaísmo ou do Islão. Nestas tradições, o Livro ( a Torah, o Corão ) é um dom de Deus e o caminho para Ele. No cristianismo, o mediador é uma pessoa viva, que te toma pela mão para te levar a Ele.
2) O Cristianismo não é uma religião do Livro. E a Bíblia não é exactamente a palavra de Deus. Para um muçulmano, o Corão é - literalmente - a Palavra de deus, ditada - literalmente - a Muhammad, sem que este tenha parte alguma na autoria. A Bíblia não pode ser isto para um cristão. Para um cristão, a Palavra de Deus é Jesus Cristo, e a Biblia apenas um meio de acesso à Encarnação. É inspirada por Deus, mas Este não é o seu único autor. Os autores históricos são verdadeiros co-autores, podendo verter no texto - e tendo-o feito frequentemente - como desejadas por Deus atitudes humanas detestáveis.
3) Um cristão aborda, pois, a Bíblia com a soberana Liberdade que Jesus nos deu, sujeito apenas ao mandamento novo. Lê-a, estuda-a e acolhe-a a partir de Jesus e do mandamento novo, que relativizam tudo o resto.
4) Esta Liberdade, repito soberana Liberdade que Jesus nos deu, não a tem o muçulmano - e dela se priva o fundamentalista bíblico, que prefere a segurança ( que a Liberdade é lixada! ) das cadeias.
5) Tenho amigos muçulmanos que procuram ultrapassar as limitações de tempo e cultura do Corão, e que admiro. Eles próprios reconhecem a dificuldade, que têm em argumentar com os seus irmãos de Fé, devida à literalidade da Palavra de Deus no Corão.
6) No que escrevi, pode substituir-se, com alterações de pormenor, "Bíblia" por "Tradição" ou por "Doutrina". Nos três casos, a Liberdade - soberana Liberdade que Jesus nos deu - de, de acordo com a nossa consciência, interpretarmos o mandamento novo ( ouvidos os irmãos de Fé ) é um dos bens mais preciosos de um cristão. E - tento responder, en passant, ao on - é um dos bens mais preciosos de qualquer homem, cristão ou não, pelo que a Fé cristã não é, de todo, incompatível com a tua Liberdade como ser humano.
Abraços e beijos a todos ( excepto ao Paulo, que dá beijinhos às Senhoras, mas só abraça os Cavalheiros; para o Paulo, vai então um abraço apertado ).
Sim, liberta. É isso que tento dizer a mim mesma todos os dias... Mas isto de não me sentir acolhida na "so called" Casa do Senhor, faz-me pensar que talvez a minha religião seja opressora e que, consequentemente, contradiga a minha Fé.
Tenho saudades de Acreditar com o coração... Um beijo.
Jesus está para além ( se falarmos do significado para o homem ) e aquém ( se falarmos da sua proximidade a nós ) de qualquer denominação cristã particular.
Os disparates destas, em particular a Igreja Romana exigir, para nos aceitar ( plenamente? ), que tenhamos vergonha de nós próprios e que abdiquemos de exprimir a nossa sexualidade, não têm nada ver com Deus, que nos aceita tais como somos e como nos fez.
Para mim é claro que há duas vertentes na fé. A horizontal e a vertical! E ambas são motivo de libertação. Esta coisa de "eu cá tenho a minha fé" ou “as minhas fezes” (como já tenho ouvido :p ) não funciona, quando me descarto da minha relação com os outros. Por outro lado, se vivo o voluntarismo sem qualquer paragem para perceber qual o sentido do que faço, também posso descarrilar. Mais do que a fezada, a Fé é uma conjugação de equilíbrio entre a nossa relação com Deus e com os outros.
Na minha fase “new age” eu cheguei a fazer meditações de Lua Cheia. Houve um dia que depois de uma meditação, ia super leve, super relaxado, pelas ruas de Lisboa. Deparei-me com um sem-abrigo, a leveza e o relaxamento passaram para um VAZIO brutal. Senti-me mesmo mal fisicamente. Ajudou-me a perceber que algo estava mal. Ou seja, EU estava bem, os outros que se lixem… De todo que não fazia sentido!
É verdade que há situações, infelizmente, em que se vive a sensação (e a vivência) de uma opressão religiosa. Mas, graças a Deus, vão ocorrendo mudanças. Uma coisa é certa: Deus ama a cada um na totalidade, tal como somos! Já me tenho perguntado porque é que sou cristão e porque é que tenho fé (no sentido de acreditar). A resposta surge. Porque acredito num Deus que não se impõe, que se fez Homem e que nos convida a sermos como Ele. No fundo, que nos liberta! E isso não é através de uma transformação energética, pseudo-mistica-gasosa. Passa por perceber que sou como sou, que essa é a minha riqueza e a partir daí posso dar do que tenho e sou aos outros. Não posso dar mais do que aquilo que tenho!
Zé Ribeiro que bom texto que apresentas sobre as diferenças entre cristianismo e o islamismo.
Já agora, Luísa! Sto Inácio de Loyola diz que só o desejo de desejar rezar já é oração, então, (penso que ele não se importa) altero um pouquinho… Só a vontade em querer Acreditar, já é acreditar! :)
Beijinhos e Abraços Apertados!! Zé Ribeiro, um abraço ainda mais apertado para ti! :)
Não há liberdade pura; o amor oprime (liberta-nos de ) o ódio, por exemplo piroso.
Liberdade e opressão são termos que se auto-implicam formalmente, e se não se focam os conteúdos oprimidos e libertados... não percebo muito bem do que se está a falar.
Ai o pouco tempo e pinha... ;) É que também discordo da distinção entre cristianismo e islamismo a partir do entendimento do que é um texto sagrado... Os vários entendimentos acerca do assunto habitam ambas religiões "ab initio"...
bluesmile "meditação de lua cheia" era como se chamava o encontro... Penso que não será necessário dizer que já me deixei disso! :)
"mistico-gasosa", expressão que usei como imagem para ilustrar uma experiência interior vazia... (Peço desculpa não ter colocado as devidas "aspas")... Olha, esta imagem ilustra o contrário de passividade sem sentido, já que o verdadeiro sentido de religião, e da oração, leva a uma actividade para aquele que mais necessita. :)
Parece que te rendeste à luta de classes: oprimidos ou opressores, sem meio-termo... :) Mas as tuas palavras lembraram-me algo: aquilo a que chamamos libertação não passa muitas vezes de substituição de uma opressão (dependência) por outra. E também é certo que muito do que tomamos por opressão é realmente mola para a nossa autonomia e independência...
«... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém! / Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; / Mas eu, que nunca principio nem acabo, / Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. (...)» José Régio, Cântico Negro
29 comentários:
E se não for saudável, será fé?
Também concordo contigo /me. Mas, apesar de Deus não ser indissociável da Fé, já a Fé não tem que estar ligada obrigatoriamente a Deus.
Eu hesitei na palavra a usar... Religião, Fé, Deus.
Enfim, usei as que usei, e sei que os meus leitores terão a inteligência para me entender melhor do que me exprimi. :)
/me
Claro que te exprimiste bem. Foi só uma provocação. :)
Hmm, mas hesitei muito. Pensei em escrever "Uma religião saudável não oprime; liberta". E também "Deus não oprime, liberta".
Depois pensei "o que é que quero dizer mesmo"?
Mas como tinha muito para fazer, escrevi desta forma, sem pensar muito!
Abraço.
(provocações deste calibre são muito boas :) )
O mais importante é que conseguiste dizer o essencial numa frase tão curta. E olha que, isso sim!, deveria ser um dogma de... FÉ.
Darias um bom teólogo! Pensa nisso! :)
Ora. :)
Eu gostava era de dar um bom leigo! :)
Uma boa pessoa.
Pronto!, tá bem! Então fica assim: leigo teólogo! (que já os há, e bons!)
É.
A sensação de liberdade que dá uma Fé ... saudável, para usar a tua palavra, é muito forte.
Mas ... não sei se será assim em todas as tradições religiosas.
No Critianismo é - porque se centra numa Pessoa que Deus nos dá e porque a vida e o ensinamento dessa Pessoa podem ser resumidos no "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei". Digamos que Jesus é de tal maneira central no Cristianismo que nada - Livro, Tradição, Igreja - pode reivindicar como doutrina correcta algo que repugne à consciência moral do cristão visto à luz de Jesus e desse novo mandamento. O Cristianismo é a religião de uma Pessoa e é através d'Ela que tudo o resto tem que ser visto.
No Islão, que - esse sim - é uma religião do Livro, as coisas são mais complicadas. O Corão é a palavra de Deus, sem qualquer mediador - e as suas prescrições têm valor absoluto, mesmo que violem a consciência moral do crente ( mas resta o problema da interpretação ).
É uma característica do Cristianismo que os fundamentalistas bíblicos e os tradicionalistas e ... os que absolutizam o magistério ... "falham".
Claro que ao dar corpo ao mandamento novo em situações particulares e concretas, ao interpretarmos o que, em tais ou tais condições, ele pode significar, nos sentimos livres ( nada - regra social, lei do Estado, doutrina da Igreja - poderá passar à frente do mandamento novo ).
Tão grande liberdade assusta. O medo de errarmos assusta e é aproveitado pelas Igrejas para absolutizar o seu magistério.
Claro que é dever de um cristão informar-se sobre a doutrina, discutir, contrastar as suas opiniões com as dos seus irmãos na Fé.
E se há indecisão no seu espírito, até é prudente seguir a doutrina da denominação com que mais se identifica.
Mas, não havendo indecisão, estando certo do que pensa ( e sabendo que pode errar! ), é seu dever defender e praticar o que pensa.
Ninguém será pesado por ter ou não seguido este ou aquele ponto da doutrina - mas por ter ou não seguido a sua consciência.
É uma liberdade que no princípio assusta, por causa da responsabilidade que assumimos ante Deus. Depois, pensamos que o nosso dever é tentar acertar, não necessariamente acertar - e que, com a ajuda d'Ele, até podemos acertar ... e sorrimos.
Não somos leitores e aplicadores de doutrina - somos cristãos.
Abraços,
ZR.
Que bonito, Zr... :)
Concordo. E acho que há muito cristão que o é sem o ser!
/me não queiras "dar num bom leigo", tu já o és... Não duvides disso! :)
Trapezista, só podes encontrar a fé quando a quiseres procurar. ;)
Sinto mesmo isso... Em tempos que já lá vão fugi da catequese. Voltei lá muitos anos depois, pelo meu pé. Redescobri Deus! Depois houve um dia que percebi que Ele me convidava a mais... Comecei a discernir. A fé tornou-se muito mais presente, ajudou-me a ser mais livre. E em liberdade decidi "re-re-redescobrir" ainda mais Deus. Ou seja, percebi que a minha vocação passava por este caminho em ser consagrado (on, se leres isto, não fiques com o "consagrado" atravessado :p , pois não me torna nem melhor, nem pior. Uns casam, outros consagram-se, outros ficam solteiros).
A fé aumenta quando abrimos a porta. E este aumento passa por consolações e também por desolações. Custa sentir o vazio de Deus, mas o Seu silêncio fala bastante. Como posso compreender a solidão dos outros, se não passo por ela? Até hoje não encontrei ninguém que diga: "Não tive uma chatice nem a minha vida!" No entanto, já encontrei muitas pessoas em que, graças à Fé que vão sentindo, as chatices foram motivos de grande crescimento interior.
Uma coisa que me ajuda a pensar na liberdade é uma frase de S. Paulo, na sua 1ª carta aos Coríntios: "Tudo te é permitido, mas nem tudo te convém".
Sinto-me um homem com fé, mas quero ter forças para re-re-re(os re's que forem necessários)descobrir ainda muito mais Deus. Sim, porque Ele é a Eterna Novidade, não se esgota numa imagem... ;)
/me, mais uma vez obrigado!
Abraço a todos, com a minha oração por cada um! :)
/me, desculpa usar o teu espaço. Só para dizer que, mesmo que não conheça, ou até mesmo não venha a conhecer, as pessoas que passam por aqui, o que é certo é que agradeço por serem quem são. Daí dizer que rezo por cada uma. (Um momento meio meloso, mas... enfim... Quem me conhece sabe que de vez em quando tenho estas pancas... :p )
É difícil ter uma fé saudável, equilibrada, segura...
Zé Ribeiro,
Não vejo qual a diferença entre dar um Filho ou dar um Livro. Acaso estaremos a fazer juizos de valor sobre o que Deus dá a cada um?
Parece-me que há aí uma certa intolerância religiosa. É que não me parece correcto comparar o melhor do cristianismo com o pior do islamismo. "O Corão é a palavra de Deus, sem qualquer mediador - e as suas prescrições têm valor absoluto, mesmo que violem a consciência moral do crente" deve ser a pior maneira de se viver o islamismo.
Qualquer religião vivida correctamente leva a Deus, logo liberta.
Porquê?
Oque é uma fé saudavel?
Uma que não oprime e liberta, ou há outra definição?
Eu não sei responder a essa pergunta, on. Mas ocorre-me que uma Fé saudável se verá pelos frutos.
Fico a pensar. :)
A ver o que os outros dizem. ;)
Respeito isso da fé, mas parece-me algo que é imposto, educado para tal, qualquer coisa que delimita... que nos obriga a acreditar no que não se percebe, fazendo-se passar que é assim, sem que nada se perceba e se continue na mesma. A fé o que esclarece? A fé é um obstáculo ao conhecimento, é o ópio do povo para os problemas, para aquilo que parece dizer o que não diz, uma falsa ilusão sem nada esclarecer. Mas pronto! Quem sou eu para tar a dizer isto? Cada qual que fique como lhe agrada, com ou sem a sua dita fé... que seja feliz mas que abra os olhos e não seja uma "maria vai com as outras". Vou pensar outra vez, mas penso que nada vai resolver, o conceito foi aplicado...
Monastero:
Não sou versado nestes assuntos, mas penso muitas vezes neles e vou tentar expor o que penso.
1) Com Jesus, Deus abriu-nos uma porta para nos aproximarmos d'Ele. Trata-se de uma aproximação essencialmente diferente da do Judaísmo ou do Islão. Nestas tradições, o Livro ( a Torah, o Corão ) é um dom de Deus e o caminho para Ele. No cristianismo, o mediador é uma pessoa viva, que te toma pela mão para te levar a Ele.
2) O Cristianismo não é uma religião do Livro. E a Bíblia não é exactamente a palavra de Deus. Para um muçulmano, o Corão é - literalmente - a Palavra de deus, ditada - literalmente - a Muhammad, sem que este tenha parte alguma na autoria. A Bíblia não pode ser isto para um cristão. Para um cristão, a Palavra de Deus é Jesus Cristo, e a Biblia apenas um meio de acesso à Encarnação. É inspirada por Deus, mas Este não é o seu único autor. Os autores históricos são verdadeiros co-autores, podendo verter no texto - e tendo-o feito frequentemente - como desejadas por Deus atitudes humanas detestáveis.
3) Um cristão aborda, pois, a Bíblia com a soberana Liberdade que Jesus nos deu, sujeito apenas ao mandamento novo. Lê-a, estuda-a e acolhe-a a partir de Jesus e do mandamento novo, que relativizam tudo o resto.
4) Esta Liberdade, repito soberana Liberdade que Jesus nos deu, não a tem o muçulmano - e dela se priva o fundamentalista bíblico, que prefere a segurança ( que a Liberdade é lixada! ) das cadeias.
5) Tenho amigos muçulmanos que procuram ultrapassar as limitações de tempo e cultura do Corão, e que admiro. Eles próprios reconhecem a dificuldade, que têm em argumentar com os seus irmãos de Fé, devida à literalidade da Palavra de Deus no Corão.
6) No que escrevi, pode substituir-se, com alterações de pormenor, "Bíblia" por "Tradição" ou por "Doutrina". Nos três casos, a Liberdade - soberana Liberdade que Jesus nos deu - de, de acordo com a nossa consciência, interpretarmos o mandamento novo ( ouvidos os irmãos de Fé ) é um dos bens mais preciosos de um cristão. E - tento responder, en passant, ao on - é um dos bens mais preciosos de qualquer homem, cristão ou não, pelo que a Fé cristã não é, de todo, incompatível com a tua Liberdade como ser humano.
Abraços e beijos a todos
( excepto ao Paulo, que dá beijinhos às Senhoras, mas só abraça os Cavalheiros; para o Paulo, vai então um abraço apertado ).
ZR.
Sim, liberta. É isso que tento dizer a mim mesma todos os dias... Mas isto de não me sentir acolhida na "so called" Casa do Senhor, faz-me pensar que talvez a minha religião seja opressora e que, consequentemente, contradiga a minha Fé.
Tenho saudades de Acreditar com o coração...
Um beijo.
Luísa:
Jesus está para além ( se falarmos do significado para o homem ) e aquém ( se falarmos da sua proximidade a nós ) de qualquer denominação cristã particular.
Os disparates destas, em particular a Igreja Romana exigir, para nos aceitar ( plenamente? ), que tenhamos vergonha de nós próprios e que abdiquemos de exprimir a nossa sexualidade, não têm nada ver com Deus, que nos aceita tais como somos e como nos fez.
Um beijo,
ZR.
Bom Dia!!
Para mim é claro que há duas vertentes na fé. A horizontal e a vertical! E ambas são motivo de libertação. Esta coisa de "eu cá tenho a minha fé" ou “as minhas fezes” (como já tenho ouvido :p ) não funciona, quando me descarto da minha relação com os outros. Por outro lado, se vivo o voluntarismo sem qualquer paragem para perceber qual o sentido do que faço, também posso descarrilar. Mais do que a fezada, a Fé é uma conjugação de equilíbrio entre a nossa relação com Deus e com os outros.
Na minha fase “new age” eu cheguei a fazer meditações de Lua Cheia. Houve um dia que depois de uma meditação, ia super leve, super relaxado, pelas ruas de Lisboa. Deparei-me com um sem-abrigo, a leveza e o relaxamento passaram para um VAZIO brutal. Senti-me mesmo mal fisicamente. Ajudou-me a perceber que algo estava mal. Ou seja, EU estava bem, os outros que se lixem… De todo que não fazia sentido!
É verdade que há situações, infelizmente, em que se vive a sensação (e a vivência) de uma opressão religiosa. Mas, graças a Deus, vão ocorrendo mudanças. Uma coisa é certa: Deus ama a cada um na totalidade, tal como somos! Já me tenho perguntado porque é que sou cristão e porque é que tenho fé (no sentido de acreditar). A resposta surge. Porque acredito num Deus que não se impõe, que se fez Homem e que nos convida a sermos como Ele. No fundo, que nos liberta! E isso não é através de uma transformação energética, pseudo-mistica-gasosa. Passa por perceber que sou como sou, que essa é a minha riqueza e a partir daí posso dar do que tenho e sou aos outros. Não posso dar mais do que aquilo que tenho!
Zé Ribeiro que bom texto que apresentas sobre as diferenças entre cristianismo e o islamismo.
Já agora, Luísa! Sto Inácio de Loyola diz que só o desejo de desejar rezar já é oração, então, (penso que ele não se importa) altero um pouquinho… Só a vontade em querer Acreditar, já é acreditar! :)
Beijinhos e Abraços Apertados!! Zé Ribeiro, um abraço ainda mais apertado para ti! :)
Hum... "místico gasosa"???
"meditação na lua chaia"???
Razão tinha Narx. A religião é o ópio do povo. Alienação, narcisismo estéril, passividade.
E não me digas, /me que agora censuras os meus posts... ;))
Se rejeitei algum, bluesmile, foi engano! Obviamente os teus posts são automaticamente aprovados. Posso é ter-me enganado. Desculpa!
Mas libertar-se é oprimir o faraó :P
Não há liberdade pura; o amor oprime (liberta-nos de ) o ódio, por exemplo piroso.
Liberdade e opressão são termos que se auto-implicam formalmente, e se não se focam os conteúdos oprimidos e libertados... não percebo muito bem do que se está a falar.
Ai o pouco tempo e pinha... ;) É que também discordo da distinção entre cristianismo e islamismo a partir do entendimento do que é um texto sagrado... Os vários entendimentos acerca do assunto habitam ambas religiões "ab initio"...
Beijos e abraços.
bluesmile "meditação de lua cheia" era como se chamava o encontro... Penso que não será necessário dizer que já me deixei disso! :)
"mistico-gasosa", expressão que usei como imagem para ilustrar uma experiência interior vazia... (Peço desculpa não ter colocado as devidas "aspas")... Olha, esta imagem ilustra o contrário de passividade sem sentido, já que o verdadeiro sentido de religião, e da oração, leva a uma actividade para aquele que mais necessita. :)
Abraços e Beijinhos!
Vítor
Parece que te rendeste à luta de classes: oprimidos ou opressores, sem meio-termo... :)
Mas as tuas palavras lembraram-me algo: aquilo a que chamamos libertação não passa muitas vezes de substituição de uma opressão (dependência) por outra.
E também é certo que muito do que tomamos por opressão é realmente mola para a nossa autonomia e independência...
JS
Cumprimentos para o /me.
Um abraço, JS. :)
É bom ver-te por aqui (tenho acompanhado as tuas participações No Adro).
«... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém! / Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; / Mas eu, que nunca principio nem acabo, / Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. (...)»
José Régio, Cântico Negro
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