29.5.06

Professores

No primeiro período do 9º ano, tive notas inferiores às habituais tanto em Inglês como em História. Em ambas as disciplinas, os professores eram os mesmos já há dois anos, e já me conheciam. Porém, tiveram atitudes diferentes:

prof. de inglês: "já te conheço, e sei do que és capaz. Tanto poderia dar-te 4+ como 5-, mas vou dar-te o 5, que espero que mantenhas no próximo período"

prof. de história: "A tua nota está entre o 4 e o 5. Quero que te esforces mais no próximo período, por isso agora dou-te o 4, para depois trabalhares mais"

Moral da história: Não voltei a estudar história e concentrei-me mais nos testes de inglês.

Não funciono bem com estímulos negativos. Nunca funcionei. Infelizmente, parece-me que é essa a tática dos nossos governantes. Partem do pressuposto de que os portugueses são maus e preguiçosos, e têm de ser obrigados a trabalhar. Como se isso desse para ir longe...

É o caso dos professores de liceu (o inverso do exemplo que dei). Agora surgiu a notícia de que os pais dos alunos poderão ter algum papel na avaliação desses professores. A ser verdade, parte-se do pressuposto de que os professores são maus profissionais e que têm de ser obrigados a trabalhar bem, o que fragiliza a sua imagem. Eu sou todo a favor da avaliação, note-se, mas por parte de quem tenha competências para isso. Não por parte dos interessados.

Os professores são pessoas formadas para o efeito, pelo menos na maioria dos casos. Deveriam ser protegidos e quase soberanos. O problema é que se assume - e se age em conformidade! - como se estes não fossem responsáveis. Depois, claro, quem é tratado como bandido também não pode ter grande motivação.

Mas os professores também têm culpa, dir-me-ão. Eu andei numa escola em que a maioria dos professores estavam motivados, numa altura em que as reformas sucessivas lhes foram dobrando (partindo?) a espinha. Assisti ao abandalhar de tudo no meu lugar de aluno (área escola??? anedótico!!!), perante a impotência dos professores. Os bons profissionais foram desistindo, e na realidade não os posso censurar. Quando se dá uma nota a um aluno e esta pode ser alterada pelos outros professores, por votação, sem mais, que é isto senão um atestado de incompetência? E, lá está, se me tratam como incompetente, porque hei-de eu dar-me ao trabalho de ser competente? Seja como for, serei injustiçado.

Mas enfim, na educação quase tudo vai mal. A começar pela ideia de medir o sucesso pelo número de alunos que passam de ano, que é (repito-me) como medir o sucesso hospitalar pelo número de altas, independentemente do doente ficar curado ou não. É um princípio muito perigoso, que poderá premiar os mandriões.

Os portugueses, em geral, têm de ser motivados. Têm de se sentir respeitados, e que o seu trabalho é importante. Têm de se sentir parceiros para um futuro melhor. Enquanto forem tratados como bandalhos, não se vai longe.

2 comentários:

Anónimo disse...

\me, gostei bastante deste teu post e já percebi que temos ideias bastante semelhantes no que diz respeito a este tema. Mas a parte problemática é que me parece que não podemos partir do pressuposto de que os professores têm de facto qualidade e mérito sequer para uma auto-avaliação do seu desempenho. Imagino que uma parte significativa possua um enrme conhecimento da matéria que ensina, mas há uma outra parte que acho que nem isso tem, e, a meu ver isso é absolutamente essencial, qualquer que seja o ano a leccionar.

Dou-te um exemplo. Um destes dias, num jantar, onde estava presente uma professora com trinta anos de serviço e a dar aulas de inglês, levantou-se uma dúvida acerca do significado de uma certa palavra em inglês. Eu sabia o que queria dizer essa palavra e traduzi para a pequena audiência aí de dez ou quinza pessoas. Claro que descrentes imediatamente se voltaram para a apreciação soberana de quem sabe disso. Imediatamente a sua resposta foi - eu não dou isso aos meus alunos - mas está certo.

Ou seja, longe vão os tempos das quimeras da minha professora do liceu de Física que era excelente e sabia tudo e mais alguma coisa! Ensinava-nos tanto além do programa. Realmente sabia Física.

beijinho
AR

Anónimo disse...

Os pais e encarregados de educação devem ter um papel importante na avaliação de, por exemplo:

i) a adequação dos horários aos interesses dos alunos ( e não dos professores );

ii) a qualidade da cantina;

iii) os transportes escolares;

iv) a acção social escolar;

e por aí fora.

Quanto à avaliação científica e pedagógica dos professores, o papel deve ser nulo.

ZR.