27.5.06

De novo à carga

Muitas relações amorosas acabam com um forte sentimento de perda. Com frequência, não se trata sequer de perda do que se teve, mas do que nunca se chegou a ter. E, com isso, vem a desilusão. Afinal, aquilo que na fase de paixão se acreditou ser, ou poder ser, do material com que se constroem os sonhos, nunca passou de ilusão - castelos na areia.

Infelizmente, a perda do que se pensava ter não é menos real do que a perda do que realmente se teve. Pelo contrário, em algumas pessoas é mote para erguer defesas e baixar expectativas. Facilmente se instala a amargura.

Ouso perguntar as questões que me assustam: quão realista é a ideia de um "amor verdadeiro"? Daquele com paixão e tudo, com fogo, Romeu e Julieta? Quão realista é a desistência desse sonho romântico (1) por uma amizade sólida com sexo em exclusividade (2)?

Um amor romântico (1) bem sucedido não culmina em amizade (2)? não, é sempre mais que isso

Uma tal amizade (2) não acaba por dar em amor (1)? pode acontecer, não sei...

O amor romântico é apenas um embuste dos tempos modernos, é algo reservado a uns poucos, ou é aquilo a que temos de almejar? Será até moralmente obrigatório, num certo sentido, recusar amor com menos expectativas?

Como sempre, sigo optimista. Mas, também como sempre (embora raramente o confesse), sou realista.

5 comentários:

Mr Fights disse...

No meu caso a perda do que pensava ter já foi suplantada pela perda do que realmente tive.

Mas acho k é bom sinal. Porque pelo menos não perdi tudo o que poderia ter perdido. Ou seja, foi uma perda menor embora não menos importante.

Quanto à amizade que se transforma em amor é o meu ideal de amor. O que quero e espero sentir e viver um dia.

dcg disse...

Eu continuo a acreditar, como tu, que posso encontrar um verdadeiro amor, romântico como dizes, único, para toda a vida. Mas não acredito que todos estejamos destinados a viver um amor assim. Para mim só alguns o conseguem. Já pensei várias vezes porquê. Será por uns terem a sorte de encontrar a dita cara metade e outros não, apesar de ela andar por aí algures? Ou será porque simplesmente alguns de nós, esses que nunca chegam a experimentar esse tipo de amor, não têm alguém compatível o suficiente? Eu inclino-me 50-50 para cada uma das hipoteses.
Fizeste-me pensar bastante c este teu post.
Abraço.

BLUESMILE disse...

O amor romãntico não é de forma alguma um "embuste dos temspos modernos" porque sempre foi buscado e exaltado ...
A grande "armadilha" da modernidade ( que explica o elevado índice de divórcios)é a ideia do casamento ligado ao amor romãntico.

Mas é possível viver um amor assim?
Um amor romãntico que resiste ao tempo e à nossa fragilidade humana e se reacende em paixão adolescente?

Sim.

Mas isso é ...em parte mistério, em parte construção humana.

CA disse...

A base do amor romântico é a amizade. Não há contradição. Em contrapartida, há formas de paixão romântica arrebatada que não são sustentáveis: são necessariamente temporárias e se andamos sempre à procura delas nunca mantemos uma relação duradoura.

Mel Biologico disse...

A minha opinião é q as coisas são mais simples do que parecem. De facto, muito se conspira sobre as coisas que "desconhcemos" por herança desse desconhecido. A religião é uma delas. O amor é outra. No caso do amor, eu acredito que esse tal "desconhecido" ou imagem ilusória, idílica, sonho do amor foi-nos trazida por Shakespeare e por uma série de textos e documentos romancistas que elaboraram a definição do que deve ser o amor (actualmente tudo sofre por aquele inicio, telenovelas e muitos etc's ). Na minha opinião, até, essa ideia romancista é criada mais pelo homem do que pela mulher, por aquele carecer de sentido prático e realista e por isso, tb, penso que a maior desilusão pode ocorrer no homem, pois este idealiza e talvez sobrevalorize. A mulher, por ter um sentido mais prático e mais realista já sabe à partida o que é q a casa gasta e nesse sentido a desilusão se ocorre é menor. Fala-se em fazer amor. Pois eu penso que quando se utiliza essa palavra apenas nessa expressão querendo na verdade designar um acto, algo vai mal. Até porque, na minha opinião, para o acto existe uma palavra: sexo. Quando se fala do amor está-se a falar das relações entre as pessoas? As relaões entre as pessoas são caracterizadas pelo interesse mutuo das duas partes envolvidas. Um interesse geralmente físico, prático ou mental, tendo sempre em vista um determinado equilibrio (afectivo, emocional, realização pessoal, viver uma vida melhor, mais facilitada, mais alegre, etc...). O amor será outra coisa que ao existir na relação, melhora-a, aprofunda-a. O amor pode ser sentido fora das relações interpessoais. Claro que a paixão, atracção, desejo são outras coisas. Mas, na minha perspectiva agora é assim. Por outro lado, a mulher dos meus sonhos não existe, até porque é de facto a dos meus sonhos. Se ela não existe por certo também não existe o amor (real) pela mulher dos meus sonhos, isto é, nunca irei sentir o amor por um ser real igual ao que teria pelo dos meus sonhos. Conclusão: viver e amar é uma busca constante por esse sonho, e qualquer namorada, namorado serão sempre uma aproximação da pessoa dos nossos sonhos, mas nunca a pessoa dos nossos sonhos. Por outro lado, cada um tem o seu próprio dicionário, os seus símbolos representativos de conceitos individuais, com as suas definições e descrições detalhadas. Este dicionário é obviamente vitima do tempo entre outros factores e portanto, apesar dos símbolos raramente variarem, por eles metamorfoseiam-se os conceitos, numa baralhação de dinamismos constantes, quase homomorfa ao ruído. Mas, p ex, agora, só me apetece falar do que penso neste preciso instante e que espero dure até ao final do que quero escrever. Um instante que não estou seguro de ser incorrelacionado com os instantes imediatamente seguintes ou futuros ou passados; mas provavelmente não será... Sem me querer afastar muito do que quero dizer, vou ser breve, quero falar do que é o amor para mim exactamente neste instante. De mim para mim, o amor é, neste instante, um estado mental individual, não colectivo ou grupal. Representa para mim o expoente máximo daquilo que consigo sentir e nada mais nem menos do que isso. Uma gama muito restrita acima de um limiar muito próximo do auge. Àquilo que sinto acima desse limiar que é perceptível para mim, eu chamo amor e digo estou a sentir o amor. Pouco tem a ver o amor com as relações entre as pessoas, isso fica bem aquém daquele limiar, correspondendo o caso das relações a outros estados mentais que se entrecruzam e não necessariamente na mesma escala nem nas mesmas dimensões. Esses estados mentais são extremamente complexos e muitas vezes têm a ver com a fisicalidade das coisas, aspectos práticos da vida, situações concretas onde já entra o processamento de informação de forma racional, e com ele o tempo. Etc. Por isso para mim o amor é também a pureza da simplicidade, da clareza, quase da omnisciência e da invariabilidade da definição do estado no tempo e obviamente a pureza da falta de complexidade. Se me perguntarem se amo alguém, eu responderia não. Porque para mim o amor é um estado tão singular, tão efémero, tão evanescente que não pertence ao mundo das palavras escritas ou ditas e afirmá-lo assim, realmente e eternamente, seria um grave erro gramatical. Mas daqui a 30 segundos tudo poderá ser diferente. Afinal o futuro será sempre aquele fantástico ponto de interrogação.
...
Lá está, eu sabia. Já mudou a definição. Pensava que iria durar um pouco mais esta definição, enfim, mais valia apagar o que escrevi e aceitar que é sempre o silêncio a resposta mais definitiva e acertada, no entanto, a maldita palavra continua, inexoravelmente, dizem, de ouvido em ouvido, a unir corações, anda por aí, à solta, à espera de ser usada mais uma vez , mas, quem sabe, nunca correctamente!

Amo-te!