19.12.06

Sentimento anti-Lisboa

Fui ali ler a irritação que causa alguns dizerem Norte quando se querem referir ao Porto. Compreendo. É a mesma irritação que sinto ao ouvir a palavra província*, que considero pejorativa, para se referir a tudo de Portugal que não seja Lisboa. É como o sentimento que se tem em relação ao umbiguismo dos americanos** que na sua arrogância conhecem Paris mas não sabem que é a capital da França.

Na verdade, cresci com um arreigado sentimento bairrista, que me fazia desgostar tanto de Lisboa como do Porto. Tão insuportáveis eram para mim as arrogâncias alfacinhas como as tripeiras, e não gostava de nenhuma das cidades. Ainda para mais, desde pequeno, via gráficos e estatísticas do investimento público por regiões, e claramente a repartição da riqueza favorecia os dois grandes centros urbanos.

Criei assim resistências e ódiozinhos de miúdo. A minha quase raiva a Lisboa aumentou quando vi esta "roubar-me" alguns dos meus melhores amigos, que foram para lá estudar. Ainda por cima quando nunca pude aguentar o marketing agressivo de instituições universitárias como o IST (era uma altura em que ainda não estava generalizado afirmar "somos os melhores do mundo e arredores"... esse pôr-se em bicos dos pés era particularmente mal visto na minha cidade, usualmente vetusta e reservada).

Depois... cresci. Conheci pessoas de um lado e de outro, e caramba, são apenas sítios onde se vive, com os seus hábitos e belezas particulares. Hoje gosto tanto de Lisboa como do Porto. Apenas não gosto da palavra "província".


* do dicionário: qualquer parte de um país, abstraindo da capital
** esta generalização é barata. Na verdade, não acho que os americanos sejam nem um bocado mais estúpidos que os europeus. Têm é uma economia mais pujante, um governo com mais influência no mundo e um à vontade que não pede licença.

2 comentários:

Aequillibrium disse...

Eu nem posso dizer que sou da província. Sou de um lugarejo algures no Alentejo...
Mas tb cresci e aprendi a gostar.
Concordo é com a tua generalização. Eu na verdade acho que os americanos são um bocadinho mais estúpidos que os europeus. Pelo menos a média. É sempre difícil caracterizar uma população, há sempre muita variedade, mas a sensação que tenho é que eles são mais 'limitados' intelectualmente. Têm grandes cérebros, mas o americano vulgar é muito, muito limitado. Mas admito que possa estar errado..

RIC disse...

Concordo na generalidade com o AEquillibrium.
Quanto à tua evolução, considero-a um sinal de inteligência, tal como a coerência indefectível é amiude um sinal de estultícia...
E depois... Por aqui somos todos mais ou menos provincianos: alfacinhas, tripeiros ou «tricanos»... (Eu sei, é um neologismo abusivo, mas apeteceu-me... Não são só as formadoras ignaras que têm direito a disparatar...) :-)