5.12.06

Se não fosse pecado, deixava-o

A propósito deste post.

Uma mulher, maltratada pelo marido, procura um padre. Que pode este dizer-lhe? Há todo um conjunto de regras e normas, pecados e pecadilhos, lealdade a uma hierarquia que não pode ser esquecida. Por outro lado, há o sofrimento real e tangível da mulher.

Não é cousa apenas de religião. Todos vivemos em tensão permanente, os nossos princípios por um lado, as nossas necessidades por outro. O justo equilíbrio entre uma estrutura que nos dá segurança e uma indispensável flexibilidade funcional é difícil de encontrar.

Volto à pergunta: quem sou eu, o que é que em mim é fundamental? Estou a levar pela vida apenas aquilo de que preciso, ou levo o coração e a mente carregados com inutilidades e barreiras? Sou livre, ou prendo-me a edifícios de pedra, reais ou metafóricos, que me impedem de caminhar para onde devo?

3 comentários:

paulo,sj disse...

/me eis-te de volta! Agora vou ser ultra-beato: Louvado seja Nosso Senhor, pela misericórdia que operou em nós... Rejubilemos!! Ei-lo de regresso!! Aleluia!! eheheh!!!

Bolas, espero que esta linguagem não se me pegue à pele...

Indo a coisas sérias, depois dos cumprimentos...

Este post leva-me a pensar, entre outras, em duas coisas interessantes: a liberdade/autonomia e a responsabilidade, existentes em cada um de nós. Mas também na questão do religioso.

Uma coisa que acredito é na liberdade que temos em poder seguir o caminho que sentimos ser o melhor. No fundo somos autónomos (que nos permite não sermos autómatos)! No entanto, parece que a norma é uma oposição à autonomia e faz-nos viver precisamente um automatismo de vivência de uma lei imposta por outro (heteronomia).

A liberdade não corresponde a uma anarquia, precisamente porque a anarquia leva-me ao fim sem qualquer sentido. Nós somos, por natureza, seres de relação. Esta relação tem de ser vivida por um lado com o conhecimento de nós próprios (consciência das minhas capacidades e limites, através da autonomia) e, por outro, no conhecimento do outro que nos rodeia, dando-lhe o devido respeito que merece. A autonomia acarreta sempre uma responsabilidade. Ou seja, por um lado vivo as leis por mim criadas, para o meu equilíbrio, mas também vivo as leis dos outros que permitem o equilíbrio da relação. Daí que cada um de nós vive em complementaridade com o outro. Esta complementaridade leva-me à questão afectiva. Graças a Deus, somos seres de afecto. Esta palavra conjuga o afecto/carinho, com o acto de afectar o outro.

O Padre não pode acrescentar muito mais coisas, a não ser mostrar o quanto somos amados por Deus, e onde é que há ou não pecado. Infelizmente, muitas vezes, promovido por muitos factores, arranjam-se pecados onde não há pecado nenhum... E às tantas, há um sofrimento imenso que impede uma vivência saudável não só do espiritual, como do social, do afectivo, etc, etc...

As perguntas existenciais que colocas são bastante pertinentes. Agora, a meu ver, poderíamos perguntar: Sou como sou, em processo e em caminho, então, nesta realidade concreta, o que posso fazer por mim e pelos outros?

/me disse...

Irra, Paulo. Já estava eu cheio de perguntas e ainda vens fazer mais umas dessas complicadas? Mas tu estás por mim ou estás pelas perguntas???*


* dois amigos estão a falar. Um pergunta ao outro:
- que farias se te encontrasses sozinho na selva com um leão feroz?
- Ora, dava-lhe um tiro.
O primeiro volta à carga:
- e se não tivesses uma arma?
- Defendia-me com um pau.
Breves instantes de silêncio.
- e se não tivesses um pau?
- Irra! E eu a pensar que eras meu amigo. Estás por mim ou estás pelo leão?

paulo,sj disse...

Bem, apresento as minhas desculpas... Não te queria, nem quero, complicar a vida, muito pelo contrário... :)

A ideia da minha pergunta final é mesmo para dizer que se pode fazer muito com a realidade concreta da vida. Agora cada qual é que vai dizer o quê, mediante a certeza da sua autonomia, com a responsabilidade inerente.

No fundo, é sempre um buscar de soluções de modo a não embarcar no vazio...

(Vazio, o que é o vazio!?!? :p )