22.6.06

Religião

Diz-se que todos temos que carregar a nossa cruz.

Não acho é que tenhamos de a procurar; ela encontra-nos. A questão é se fugimos a ela ou se nos mantemos firmes.

Acho demasiado misticismo para significar que em tudo nos temos de comportar de forma correcta. Ou se calhar eu é que não entendo. Na religião, às vezes dizem-se coisas simples de formas tão complicadas. Fazem-se regras tão complexas, quando o importante é saber amar (a nós mesmos, aos outros).

E isso, o saber amar, vai bem para além do cumprir prescrições. Quem ama, não mede esforços. Todas as regras da Igreja, portanto, poderão quando muito ser consequência lógica desse Amor. Mas, se à luz desse mesmo Amor, não fizerem sentido, que lógica faz persistir nas regras? Não se está a confundir tudo? Parece-me que a Igreja é uma mãe que não sabe reconhecer a maioridade dos seus filhos, e dá ordens em vez de conselhos. Mãe tirana, ainda mãe, mas ainda tirana.

Julgo que a atitude certa de quem ama é repetir o que disse um general romano ao entrar em Roma com o seu exército, quando relembrado de que por lei não se podia andar armado em Roma: "párem de citar as leis: trazemos as espadas nas mãos"* - a espada neste contexto actual entendida como o Amor.

* a minha memória é terrível, e não consigo citar o argumento do general. Mas perante as espadas, a lei tornava-se irrelevante.

6 comentários:

maria disse...

/me

o teu texto permite várias abordagens. Ou melhor põe questões diversas.

A cruz - quer queiramos ou não, faz parte. Independentemente de sermos religiosos ou não, termos fé ou não, o mal, a dor, o sofrimento acompanham-nos. Há que integrar isso, sem evasões, na nossa vida.

O amor e as leis. Ninguém consegue viver o amor em estado puro (sei lá o que isso é...)precisamos de regras, de normas. As normas são uma ajuda para crescermos. É como a criança que começa a andar, primeiro precisa de ajuda, depois já caminha sozinha. Quanto mais maturidade, menos são precisas as regras e por outro lado, menos incomodam.

A Igreja, não se tem esforçado muito por tornar as pessoas autónomas. Há uma palavrinha para isso - poder. É a tentação de todos os tempos e lugares.

Eu todos os dias me irrito com a Igreja, e todos os dias desejo ser capaz de lhe permanecer fiel. Ainda preciso (muito) da tal ajuda. Não confio no meu caminhar sozinha.

Anónimo disse...

Bem, que quer dizer "Igreja"?

Para mim, deixando de parte o próprio Jesus Cristo e os fiéis defuntos, a Igreja é o conjunto de todos os cristãos, quer dizer todos os homens e mulheres que acreditam em Jesus vivo, morto e ressuscitado e que procuram viver dando corpo a essa Fé.

A Igreja é constituída por "grupos", que diferem uns dos outros em pormenores de doutrina, de rito e de organização, e que gostam de se distinguirem pelo nome - como se não bastasse chamarem-se "cristãos" ... Para os castigar, chamemos a tais grupos "denominações". Há os católicos, os evangélicos, os reformados, os anglicanos, os metodistas, ...

O que há de comum é muito - embora se lhe ligue pouca importância; digamos que é o simbolo dos apóstolos, o Credo tal como o Concílio de Niceia o estabeleceu. O que divide é pouco - mas dá-se-lhe uma importância desmesurada.

Se cada cristão fizer este esforço de pensamento, os problemas que referes ficam muito relativizados ... Porque sentes como tuas ( tanto quanto a dominante em Portugal ) denominações que não têm a mesma obsessão regulamentadora, que dão ao crente uma grande liberdade e
responsabilidade na escolha do caminho.

Claro que há o problema da comunhão.
Ainda aqui, é preciso pensar.

A denominação católica é de "comunhão fechada", quer dizer restrita aos membros da denominação ( e, adicionalmente, um certo estado de "pureza" é necessário ). Trata-se de uma regra tão rígida que o próprio João Paulo II, quando deu a comunhão ao Tony Blair, foi chamado à pedra pelos "escriturários" da denominação.

Ora isto é um disparate sem pés nem cabeça.

Jesus comprazia-se no convívio e na comensalidade com toda a sorte de homens e mulheres, quaisquer que fossem as suas crenças, quaisquer que fossem os seus pecados.

Que os auto-reclamados discípulos exijam certificados de conformidade de crença e de limpeza de alma para distribuirem o Seu corpo a gente faminta, como se fossem eles os proprietários do Seu corpo - é um escândalo!

É um exemplo perfeito da distância de Deus ( que ama os homens ilimitadamente ) aos homens ( que levantam barreiras artificiais ao amor entre os homens ).

Receber ou não o corpo de Cristo é um assunto estrictamente pessoal entre cada homem ( mesmo não cristão ) e Jesus. A Igreja não tem nada a ver com isso.

Mas ... relativizemos ... Existem denominações de comunhão aberta ( a maioria delas ).

O ecumenismo costuma ser entendido como um processo de cedências mútuas ( na doutrina e no PODER ) que acabará por conduzir a uma certa uniformidade de crença, que permitirá restaurar a comunhão total ... É uma tonteria! O ecumenismo passa por nos corações dos cristãos se sentirem membros da Igreja e não desta ou daquela denominação; por nas cabeças dos cristãos "desdogmatizarem" as partes dogmáticas que não são partilhadas; e por seguirem o exemplo de Jesus à mesa.

É só isto que tem que ser feito.

Feito isto, alcança-se a unidade, a liberdade, a responsabilidade, e os problemas que referes desaparecem ( não falo da cruz, do sofrimento - que é inelutável, mas a que Jesus dá um sentido, e que ajuda a suportar ).

Não se trata de um apelo a abandonar uma denominação particular. Trata-se de perceber que ser cristão passa por relativizar ser católico ou evangélico ou isto ou aquilo ...

Um beijo grande,
Zé.

Anónimo disse...

Pois... mas onde é q acabam as regras úteis e começam as regras supérfluas? Todos concordaremos q não matar é boa ideia (se bem q nos EUA haja quem discorde...) mas outras há q são difíceis de julgar.

A chatice é q quem tem a autoridade para dizer o q é bom e o q é mau é a Igreja, e essa é bem lenta a formular opiniões, especialmente lenta a mudá-las.

Parece receita para a infelicidade ter-se a noção q se sabe o caminho qd n se tem controlo sobre o mapa oficial, o mapa q dá certezas...

Anónimo disse...

A Igreja de Cristo não é constituida por muitos grupos, mas é um só grupo universal e eterno.
O facto de vermos muitos grupos (ou denominações) na chamada igreja de Cristo é porque essa não é ainda verdadeiramente a Igreja de Cristo.

Manuel ... Pires

/me disse...

mc, concordo quando dizes que as regras são necessárias para crescermos. Aliás, diria que são essenciais para nos estruturarmos, enquanto pessoas. Numa fase inicial, diria que o cumprimento das regras é tudo, mas, como dizes, quanto mais se cresce, menos são precisas as normas. Algumas são interiorizadas e vividas sem pensar nisso, outras são escolhas racionais, lógicas e óbvias, mas de vez em quando há uma norma que parece estar em contradição com o poder amar. No teu comentário ao meu post seguinte, dás o exemplo das árvores que precisam de um pai como suporte. Eu lembro-me das árvores que se vêm, nas cidades, encaixilhadas. Há normas que são essa caixa em volta da árvore, mas há outras que por vezes estão em cima da caixa, a impedir o seu crescimento. E aí, ou a árvore se desvia habilmente dessas (e depois o seu crescimento será entre as normas), ou retorce-se e tem de permanecer, dobrada, dentro da caixa...

Pronto, não vale a pena continuar com a metáfora, penso que dá para entender onde quero chegar. :)

Mas eu concordo que precisamos de regras. Para o Amor, até para tudo. Só que as regras são apenas uma ajuda para atingirmos um fim, não são de forma alguma o fim.

/me disse...

ZR, neste caso referia-me apenas à Igreja Católica, ou, mais ainda, a quem nela manda. De resto, concordo contigo.